Rascunhos

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domingo, outubro 01, 2006

Fábula

A raposa administrava bem o galinheiro. De vez em quando comia uma galinha, às vezes duas. Depois limpava tudo, distribuía ração, anunciava um feriadozinho qualquer, promovia jogos.

O dono do galinheiro apreciava. Não gostava da raposa, precisava dela para que as coisas andassem bem. Até que houve um dia quando a raposa foi além nas medidas de comilança. O dono do galinheiro apareceu com um cachorro enorme. A raposa decidiu manter o cachorro preso, alegando que poderia prejudicar a produção dos ovos. O dono aprovou, desconfiado. Por via das dúvidas, envenenou algumas galinhas... A raposa criou o hábito de, antes de comê-las, dar uma provinha ao cachorro, porque afinal era um princípio religioso valorizado dividir alguma galinha com o próximo.

Pois houve então um dia em que o dono instalou uma CPI no galinheiro. Uma investigação demorada transmitida pela TV do Senado Galináceo para todo o galinheiro. Em breve, chegou-se à conclusão evidente de que o cachorro era o culpado. Algumas galinhas, assustadas, acusaram a si mesmas. Depois descobriram um velho porco que vivia nos fundos do galinheiro e que se alimentava de sobras. Foi imediatamente preso.

Resta que o dono do galinheiro e as galinhas deram-se por contentes e se acalmaram. A CPI terminava. Houve festa. Comeram o porco e dançaram até bem tarde. A raposa fez um discurso emocionado acabando, teatralmente, por beijar um pintinho e lambendo discretamente os lábios. Por decreto, baixou alguns impostos. E assim, com todas estas mudanças, as coisas puderam seguir, solenemente, as mesmas.

(>>>>>>>>>>>> Fábula tirada da revista Filosofia Ano I, nº 3 <<<<<<<<<)

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